Não são trinta e seis as gavetas
Onde confundes objectos azuis
Inúteis verdes e desirmanados
Não são a melhor invenção
As gavetas
Mas nelas encontras especiarias
Chás longínquos e chaves de portões
Onde começa a estrada
Ou listas de famílias
Que podem ser de árvores ou flores
Sem chegarem a ser herbário
As gavetas
Não serão a melhor das invenções
Preferes cantar e esbanjar versos
Aguardá-los
Ainda que te digam voz pequena
A metafísica come bombons
Cujas pratas – as únicas mantidas –
Encostadas ao coração dos livres
Nem por uma salva de palmas trocavas
Não são trinta e seis as gavetas
Apenas um quarto das de Szymborska
O que resulta exactamente no número do dia
Em que nasceste
Coincidências minúsculas, sinais, sardas
Que não dão mais sentido ao mundo
Antes revelam riscos que anunciam a travessia
Um voo novo para outra folhagem