O projecto Bruta quer ser uma central dedicada ao pão Bruto. Foi posto em movimento através da energia gerada pela curiosidade, pelo desejo e pelo salivar, dirigidos à memória de um pão primordial, formado essencialmente de mãos, farinha, água e sal.
Num contexto em que reconhecemos colectivamente que o pão a que temos acesso já-não-é-o- que-era, em que sabemos que perdeu a aura, que é um pão sem alma, sem qualidades, regulado apenas por interesses económicos de curto espectro, o Bruta pretende afirmar, juntamente com Andrew Whitley, Vanessa Kimbell, Michael Pollan, Lionel Poilâne, Mouette Barboff, Mário Rolando, Vítor Moreira, Jose Carlos Capel, Ibán Yarza, William Rubel, e tantos outros: o pão interessa: bread matters.
O Bruta tenta escapar ao pão aditivado, feito com enzimas não declaradas, feito com fermentos químicos, açucares, com melhorantes que o pioram; empobrecido, porque embelezado e conservado artificialmente. O Bruta anda à procura de um pão cujo enraizamento ao essencial ajude a aumentar a consciência sobre a origem dos seus ingredientes, sobre a diversidade dos seus grãos, a sua forma de cultivo, de cuidado, de moagem. Um pão Bruto, pode, no entanto, conter sementes, tubérculos, frutos, vegetais, leveduras naturais, ou outros alimentos Brutos, desde que a sua base seja farinha não aditivada, água, sal e pensamento.
Chamamos-lhe Bruto, também, porque somos auto-didactas do pão, tal como os artistas da arte Bruta revelados por Jean Dubuffet. Assim como são auto-didactas muitos dos padeiros, dos agricultores e dos moleiros, Brutos, que vamos encontrando pela estrada fora e com quem vamos aprendendo o que sabemos. Nesse sentido, o Bruta também se interessa por aqueles gestos manuais e práticas que trabalham farinhas adulteradas: temos consciência que não podemos despejar o saber de mãos Brutas com a água das lavagens.
Será no mapa PIB, do Pão Interno Bruto, que escoaremos essa nossa curiosidade de estrada, partilhando a geografia e os saberes da escola que existe em cada um dos que participam no ciclo do ganha-pão.
A nossa padaria é Brutalista porque quer ter uma estrutura à vista, robusta e evidente, produtora de um pão que mostre aquilo que é, sem rodeios, sem farinhas mansas. Não tratará de esconder para convencer, mas de se expor para existir. Na padaria Brutalista, o pão será distribuído fresco, no entanto, resistirá muito tempo na banca da cozinha, se guardado dentro de uma taleiga feita humanamente. O pão Brutalista poderá conter glúten e isso, não será drasticamente mal visto. Será respeitado o consumo milenar dos grãos, num elogio à lentidão, num registo de intolerância severa à pressa.