Número 11

21 de Agosto de 2021

POESIA

Caminhos de casa

MIGUEL SERRAS PEREIRA
  1. No silêncio das ervas do caminho

A tua mão traça no silêncio do olhar
o caminho de casa que desperta
no silêncio das ervas do caminho

  1. No regresso de todos os caminhos

Por rios e por ruas sem casa nem caminho
em busca dos caminhos de casa que começam
no regresso de todos os caminhos

  1. Ao rés da via férrea abandonada

No teu caminho em branco havia ao meio-dia
em branco no meu sangue um rio que cantava

Ou só na brisa a sombra dessa ave que subia
e cujo voo ia e vinha e te saudava

no ancoradouro de uma casa junto ao rio
ao rés da via férrea abandonada

  1. Câmara escura

A luz que a mão desenha entre dois passos
quando na câmara escura dos teus olhos
o caminho revela a encruzilhada

  1. Sem eira nem beira

Ao perpassar de um beijo no frémito dos lábios
mortal jogo natal da estrela que semeia
o caminho de casa em cada encruzilhada
desta rua sem eira nem beira onde vagueia