A que propósito teria a pivô interrompido a entrevista a F. de Sá sobre a crise energética na Sereníssima República de San Marino para se virar como uma ave de rapina para a câmara e afirmar perentoriamente que “o teu corpo não é só teu”? Poder-se-ia ter tratado, afinal, de uma alucinação sua, induzida pelas entrelinhas da conversa, pelo caráter ansiogénico da atualidade somado às agruras do quotidiano? Desprovido de meios técnicos que lhe permitissem rever a cena, não tinha como confirmar. Mas, independentemente de a sua origem ser endógena ou exógena, poderia aquele postulado — de que o seu corpo não era só seu — ser verdadeiro? Todas as possibilidades abertas pelo incidente eram-lhe abomináveis e conduziram-no a um estado maior de inquietação. Movido pela força que encontrou no fundo daquela terrível dúvida, percorreu a casa a reunir todos os medicamentos, bens alimentares com conservantes artificiais e iogurtes com micro-organismos que encontrou e meteu-os numa cesta de junco, que prontamente lançou janela fora. O infortúnio ditou que esta caísse em cima do cão da senhora do 2º esquerdo, por cujo falecimento esta lhe exige agora uma indemnização de cinco mil euros.