individuals who experience stress on a daily basis (…) are so consumed with daily struggles and simply focus on getting through day by day. As such, they are unable to experience entire dimensions of human well-being (…) they have adapted to their lot and, in Sen’s words, have no choice but to take joy in simple pleasures. Carol Graham, The High Costs of Being Poor in the Land of the Dream, 2017
“Some people don’t know much. I am such a poor hunter and my wife a terrible cook who ruins everything. I don’t have much, but I think there is a piece of meat outside. It might still be there as the dogs have refused it several times.” This was such a recommendation in the Eskimo way of backwards bragging that everyone’s mouths began to water… David Graber, Dívida, 2011
O que acontece quando o melhor bocado das nossas vidas é dado aos cães?
Quando os dias nos encostam às cordas, o desejo de contentamento polui e contamina as pequenas ações como se fosse água num copo cheio de areia. Ocupa os interstícios pois não tem mais para onde ir, e inunda o quotidiano com um turbilhão de detalhes delirantes, animando a vida das formigas que tocam antenas quando se entrecruzam no caminho.
O melhor bocado nunca pertence ao quotidiano. O obstáculo principal não reside na falta material, mas no problema de que o melhor bocado é medido contra cornos e tripas, e logo, para existir tem de estar fora do alcance do sempre. O naco de posta pertence aos cães e aos reis.
Qual a diferença entre os dois? Está no prazer que retiram do naco. Os reis têm mais prazer em tirá-lo da nossa boca do que pô-lo na deles, enquanto que os cães são todos eles sucos, com saliva antes, durante e depois.
Por isso gosto de ser tripeira. É indiscritível o gozo de baixar os limiares para depois explodir numa torrente festiva.
Sem festa esta vida não é possível. Mas num mundo onde só os reis vêm à festa, o melhor é dar tudo aos cães. Dar a festa a quem nos faz festas, em vez de alimentarmos o degrau que põe uns em cima dos outros.
Ir com os cães para debaixo da mesa, deixá-la lá estar para lembrar que existe, para que se encha de moscas sós sem convite para a festa que ri debaixo das suas pernas.