Número 31

29 de Abril de 2023

CAIXA ALTA

Margarida Mendes Silva – Abril em Coimbra tem rosto de mulher

ANDREIA M. SILVA


Tinha 10 anos quando, com seis amigas, “criou” a sua primeira companhia. Ainda se lembra dessa paixão pelo teatro porque as “boas paixões (que as más também existem) são para a vida inteira”.

O teatro, aliás, acompanhou todo o percurso de Margarida Mendes Silva: desde as experiências de criação artística e animação com crianças quando era adolescente, passando pela frequência de um curso de iniciação teatral ainda no liceu.

Mas quando chegou a hora de se decidir por um curso superior, Margarida só tinha uma certeza: “não ter como destino o ensino”. Restavam, à época (finais da década de 70), duas hipóteses: Direito ou Sociologia.

“A carreira diplomática também exercia em mim algum fascínio, confesso. E ter um pai que fora advogado num momento da sua vida, também me empurrou para a decisão”.

Exerceu advocacia até ao ano de 2016, mas a paixão pelo teatro e pela arte nunca esmoreceu, apesar de ter tentado outros caminhos e novas possibilidades.

 Porquê?  “Porque está lá tudo: a vida, nós e os outros, as inquietações, as perguntas (mais do que as respostas) e aquela dúvida permanente que nos baralha e nos mantém acordados: qual o sentido para tudo isto? Que faço eu aqui?”

A verdade é que Margarida nunca se desligou dos palcos, no lugar do público. E foi também para – e pelo público – que um dia percebeu que tinha chegado o momento de encarar profissionalmente a aventura da produção. Desde 2005 tem apresentado, com a regularidade possível, os projetos que abraça do princípio ao fim: a escolha do texto, os convites aos artistas e criadores, a angariação de financiamentos e a circulação da obra. Não é um caminho fácil, num país e num tempo em que os apoios escasseiam.

“Em troca recebo muitas alegrias, orgulho, satisfação. Temos alimento para a imaginação e a criatividade. Também não escondo que há momentos de desolação, mas não desisto facilmente. Cultura e Risco é o nome da minha associação. É fácil perceber porquê, não é?”

É também graças a esta inquietação de Margarida Mendes Silva que nos últimos anos Coimbra tem acolhido projetos com temáticas específicas como o “Summertime”, “O Mundo do Vinho” ou “Casa Adentro”. E é graças a ela, também, que a cidade tem sido palco da iniciativa “Abril no Feminino”, onde as mulheres são o pretexto da programação, enquanto produtoras de conhecimento, arte e pensamento. Sempre na companhia de artistas, escritoras, investigadoras, arquitetas, para falar com Elas e sobre Elas.

“Dizem que a Primavera é promessa de vida, tempo de renovadas energias e de uma vontade vitaminada. Atiramo-nos para a frente, depois de um longo Inverno. Mas Abril em Portugal também é sinónimo de Revolução, de liberdade, de esperança”, diz. Logo, é um bom pretexto para dar às mulheres, voz, visibilidade e o merecido protagonismo. E lembrar nomes como Maria Lamas ou Natália Correia, que germinaram em tempos de ditadura, “senhoras de uma coragem, não apenas física, mas moral e política”. E, claro, todas as outras. “Haverá certamente aquelas que fazem a diferença, mulheres anónimas, nas empresas, nas escolas, nas fábricas, nas universidades. No campo e na cidade. Não chegam a ter visibilidade ou justo protagonismo. Mas fazem. E há também aquelas que gozam de maior visibilidade e que cumprem o seu trabalho, em prol das mulheres, defendendo e lutando pelos seus direitos, promovendo o pensamento livre e a autonomia”. Como ela, Margarida, que continua o seu caminho, acreditando sempre que o teatro é o espaço privilegiado das emoções. “Toda a vida lá dentro. E um espelho sobre nós.”