Era bonito ver
à noite
da janela de casa
ou da mureta
da praia
o estaleiro
envolto na
aura de suas
próprias luzes
sobrepostas,
soldas, maçaricos,
refletores, holofotes,
luminárias pendentes,
arcos voltaicos,
trovões
de nenhuma
tempestade;
e
durante a
troca de turno
dos operários
no
corredor-limbo
a troca de olhares
metade
camaradagem
esportiva
metade senhas
de potencial
rebelião,
senhas mudas
ou estridentes
como aquela vez
no portão
dando para
a rua
ou para os
hangares
(conforme se
estivesse
entrando
ou
saindo)
a garrafa de
leite azedo
explodindo
contra o letreiro
espalhando
coalhos brancos
nos capacetes
amarelos
ou nos cabelos
recém-penteados
(conforme se
estivesse
saindo
ou
entrando)