Nasceu em Março de 1897 na região que então se chamava Ekaterinoslav, na Ucrânia, e foi registada com o nome de Perl Karpovskaya.
Era filha de um alfaiate judeu e trabalhou desde os 14 anos. Primeiro numa fábrica de cigarros e depois numa farmácia.
Em 1918, com 21 anos, aderiu ao Partido Operário Social Democrata (bolchevique) e fez trabalho político no Exército Vermelho, durante a guerra civil que se seguiu à Revolução de Outubro. Adotou o nome de Polina Zemchuzina (ou Zhemchuzhina, a Pérola pequenina). No Verão de 1920, foi eleita delegada ao Congresso de mulheres que se realizou em Moscovo, representando as mulheres bolcheviques de Zaporozhye, a cidade de que tanto se ouve agora falar por ser um dos destinos dos refugiados de Mariupol. Em Moscovo, Polina encontrou Viacheslav, dito Molotov, nascido em 1890.
Viacheslav era já um influente membro da direção do partido. Nascido Vyacheslav Mikhailovich Skryabin, passara anos de juventude nas prisões czaristas. Adotara o nome de Molotov, a partir da palavra russa Molot, o martelo, símbolo proletário da aliança operária-camponesa, que ornamentaria a bandeira vermelha bolchevique. Viacheslav Molotov e Polina Zhemchuzina tornaram-se inseparáveis. Partilharam um apartamento comunal com o casal Estaline, Joseph e Alliluyeva. E mais tarde, ao que parece, aposentos do Kremlin. Com a ascensão de Estaline a secretário-geral, Molotov tornou-se de facto, e durante muitos anos, a segunda figura do regime. Viria a ser o mais célebre dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Soviética, o que, enquanto Plenipotenciário, assinou com o Reich, no Verão de 1939, o tratado que ficou para a História com o seu nome e do seu congénere alemão, von Ribbentrop. O Pacto de Não-Agressão germano-soviético durou dois anos, durante os quais Hitler invadiu a Polónia e a Europa Ocidental e, sob diversas formas políticas, o III Reich dominou desde os Pirenéus até às fronteiras ocidentais da União Soviética. Incorporação direta no Reich, regimes pró- alemães, submissão, Estados-clientes, zonas de ocupação militar. Durante esse tempo a URSS ocupou parte da Polónia e a Bucovina, os três Estados bálticos, a Carélia Finlandesa e a Moldávia.
Polina, que logo nos anos 20 frequentara o Instituto de Economia de Moscovo, teve importantes cargos na direção da indústria ligeira, alimentação, têxteis e de cosméticos.
O casal adotou uma criança órfã, Sónia, e mais tarde teve uma filha, Svetlana, como a célebre filha de Estaline e de Alliluyeva. Sónia estudou nas melhores escolas de Moscovo e os seus colegas conheceram-na como “a Molotova”. Quando Genrikh Yagoda, o chefe da polícia secreta (GPU), foi preso numa reunião do Politburo presidida por Molotov, o casal foi ocupar a dacha deixada por este. Polina mobilou-a com requinte e bom gosto, “em termos soviéticos”, como escreve, malévolo, um biógrafo de Molotov.
À frente da indústria cosmética soviética, Polina é corajosa e inovadora. Encoraja as mulheres a usar roupa estilizada, a maquilharem-se como parte de um programa de saúde, higiene e renovação cultural. O expoente máximo da indústria cosmética é o conglomerado TeZhe, que produz sabões, cremes, makeup, perfumes, colónia, batons, pasta de dentes. A publicidade é agressiva e sedutora. Um dito popular diz:
“Nos lábios TeZhe,
Nas faces TeZhe,
Nas sobrancelhas Te,
Onde beijar? “
Em 1934, Polina recebeu a Ordem de Lenine, a mais alta condecoração da URSS. E nesse ano, o casal Molotov viajou aos Estados Unidos para se encontrar com Roosevelt e Polina informou-se sobre a indústria cosmética norte-americana, visitou grandes produtores como a Colgate-Palmolive-Peet Co. e, uma tarde, tomou chá com Eleanora Roosevelt.
Nesses anos a TeZhe não apenas aumentou enormemente a produção de bens como melhorou a sua qualidade, diversificou os produtos, investigou novas receitas, produziu e importou matérias primas. Polina orgulhava-se dos jovens cientistas que “na Crimeia, no Cáucaso ou na Ásia Central, procuravam plantas raras“ e “dos talentosos químicos que nos laboratórios criavam perfumes requintados e poderosos.” Uma importância crucial foi dada à embalagem. Os motivos pré revolucionários ou de Arte Nova foram substituídos. Artistas construtivistas de vanguarda, como Alexander Rodchenko, colaboraram na imagem dos produtos, e dizem que a mítica Eve Zeisel, que viria a ser uma das mais consagradas ceramistas do século XX, e que em 1932 viajara de Berlim para a Ucrânia e depois para Leninegrado, foi contratada como diretora artística, e fez um trabalho que alguns historiadores classificam como notável. Polina insistia em que o aspeto dos produtos “não devia apelar ao consumo, mas ser um fator educativo e cultural”. Cada produto (uma “obra cultural”) devia conter uma mensagem estética e cultural que apelasse para a higiene e transmitisse ideais socialistas. Higiene para as massas, era a palavra de ordem. A TeZhe dos anos 30 era uma poderosa empresa nacional de bens, retalho e publicidade, ao serviço da higiene e do bem estar na perspetiva de um conceito que, para usar as palavras de Olga Kravets, uma historiadora de cosmética, retirasse aos produtos o potencial alienante de mercadoria, e revelasse as etapas históricas da sua produção, distribuição e uso, unindo os trabalhadores aos utilizadores.
Uma entrevista a Zemchuzina no jornal Rabotnitsa, em 1936, mostra-a no gabinete de trabalho. A entrevista intitula-se “Mais uma vez sobre a Beleza e a Cultura”. Começam por descrevê-la como “uma mulher pequena, bem vestida, com os cabelos e as unhas arranjadas”. — Não demora muito tempo — acrescenta ela . E a seguir descreve as suas rotinas, incluindo exercício físico, tratamentos faciais, condicionamento do corpo. Ela enfatiza que os cuidados com o corpo não são um privilégio, mas um direito de todos e acaba com uma exortação a todas as mulheres soviéticas desejando que sejam “ frescas, saudáveis e belas”.
Entretanto Molotov transforma-se num personagem central da história contemporânea. Foi sozinho a Berlim, em Novembro de 1940, a convite de Hitler, quando os alemães pretenderam capturar a URSS para o Eixo. Molotov mostrou-se distante, lacónico e, num terreno difícil e de grande isolamento pessoal e político, respondeu negativamente à manobra de sedução. Poucos dias depois, Hitler emitia a diretiva 21, “operação Barbarrossa”, a ordem de invasão da URSS. A forma como Estaline recebeu e reagiu à notícia é muito debatida entre os historiadores. Dizem que ficou devastado, deprimido e que se isolou na dacha. Foi Molotov quem se dirigiu às Repúblicas soviéticas, através de uma proclamação lida na rádio, apelando à luta sem quartel contra o invasor, e iniciando a “Grande Guerra Patriótica”. Molotov não era um orador inspirado, usava um pince nez e tinha um ligeiro problema de fluência. Mas foi através dele que os povos da URSS souberam da invasão nazi e receberam a palavra de ordem para combater, resistir e vencer. Antes da alocução, Molotov, que estava na Crimeia, telefonou a Polina. O relato atribuído à filha, Svetlana, é interessante. A mãe terá comentado: —Os alemães invadiram o nosso país. A guerra começou. Tenho de ligar ao cabeleireiro.
No fim da guerra, Polina, que entretanto fora ministra das Pescas, é envolvida no caso que levou à liquidação do Comité Judeu Anti-fascista, um episódio das múltiplas perseguições que periodicamente Estaline fez aos judeus, mesmo aos comunistas que ocuparam cargos importantes no Estado e no Partido. Antes de uma delas, Estaline ironizou junto de um colaborador: — Vamos limpar a Sinagoga!
Uma irmã de Polina tinha emigrado, ainda nova, para a Palestina. Zemchuzina era amiga de Golda Meir, com a qual eventualmente se correspondera e recebera em Moscovo. Foi presa, esteve um ano na tenebrosa prisão de Lubianca, em Moscovo, e depois foi enviada para o Cazaquistão, deportada, segundo uns. Para o Gulag, escrevem outros. Pressionado por Estaline, Molotov divorcia-se. A sua estrela empalidece, mas ele nunca cai. E quando, em 1953, Estaline morre, ele procura Laurentii Beria, o responsável pela polícia secreta soviética, que a história relata como um perverso psicopata assassino, e pede-lhe que liberte imediatamente Polina. O que este fez, deslocando-se pessoalmente ao Cazaquistão.
Diz-se que Polina lhe perguntou pelo camarada Estaline e que, ao receber a notícia da sua morte recente, desmaiou de comoção ou de desgosto. E que não perguntou por Molotov.
Não sabemos quanto tempo demorou até à reconciliação. Um biógrafo russo de Molotov diz que ele só sabia fazer três brindes: a Joseph Estaline, a Zemchuzina e ao Partido, provavelmente por esta ordem. Era a sua linha de fidelidade.
Polina foi reabilitada e reintegrada no PCUS. Livre de qualquer acusação, não voltou à vida politica ativa. Morreu de cancro, aos 73 anos. Molotov esteve no topo do Partido até aos anos 60, quando conspirou contra Krushev e foi afastado. Aquilo a que se chamou o Grande Terror tinha acabado e ele teve uma reforma serena em Moscovo. Ambos deram entrevistas lacónicas em que defenderam Estaline e as grandes purgas, como excessivas mas necessárias. Molotov assinou milhares de execuções extra judiciais. Mais do que o próprio Estaline. O neto, Viacheslav Nikonov, desde há anos que desfila com o retrato do avô, todos os 9 de maio, dia em que se comemora a vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazi. Foi membro dos Komsomol nos anos 70, um jovem líder do Partido Comunista nos anos 80, e depois pertenceu sucessivamente ao staff de Mikhail Gorbachev, de Boris Yeltsin, e de Vladimir Putin. Como escreveu uma articulista do New Yorker, ele foi um fervoroso adepto da perestroica, sob o primeiro, de reformas “democráticas” com o segundo e tornou-se um arauto de sentimentos tradicionalistas e anti-Ocidentais, com o terceiro.