Para além
da teoria
da genitalidade
você mantém
a mão direita
na maçaneta
sem girar
enquanto
na esquerda
— no copo d’água
que a esquerda
segura —
o comprimido
de Aspirina C
impõe seu
próprio tempo
seu próprio
ritmo
a todos os
outros ritmos
nervosos
irracionais
do dia;
para além
dos liames
invisíveis
e dos instintos
historicamente
determinados
você começa
a lembrar
de quando
tinha 15 anos
e vagava
pelas ruas
do bairro feio
mas arborizado,
a ponta do nariz
apontando
para o chão
para o abismo
para os afogados,
o coração
transbordando
o erotismo
vulgar e potente
dos blockbusters
dos 70;
para além
dos poderes
biológicos
auto-regeneradores,
do pôster de
Jim Morrison
peito nu
pendurado na
parede do
quarto de dormir
e da pluralidade
radical
das durações
foi
no fim das contas
a época Disco
que correspondeu
profundamente
a algo
dentro de você
desconhecido
primeiro,
desgovernado
depois
— sua garota
dançava
fazendo
sucção no
polegar,
irredutível
a toda
tentativa de retratá-la,
— Puck? Titânia? Oberon? —
emitindo
transmitindo
os relâmpagos
sublimes do
pensamento,
sinais luminosos
de vida
que para sua surpresa
chegaram até aqui
chegaram a este
aqui e agora
da mão congelada
sobre a maçaneta,
da cabeça explodindo
de dor de cabeça,
do comprimido de
Aspirina C
ainda pela metade
parado e se
dissolvendo
dentro do
copo d’água,
em todas
as direções
por todos
os poros,
do uber lá fora
berrando,
oprimido
opressor.