Nº 37
O 37 não tardou, de facto.
Entrei com o rosto do taxista pela metade
um corte preciso que lhe endurecia o olhar
e o empurrou para o tema da concorrência
que tratava por plantaforma
Planta forma, planta forma, repetia.
Eu sorria adentrando-me pela ideia de saber
quanto salvar podia um erro
e uma planta me subia pelo pé
até à cidade dos meus olhos.
Plantaforma continuava o taxista
pelo que meti a cassete triste dos dias para lhe responder
enquanto experimentava as boas maneiras
de separar e unir planta deforma
ou corpos com muitas arestas
ou tomadas eléctricas
e eu exímia praticante de kamasutra
demorando-me nessa empresa
como se me fixasse no caracol
que passava uma tangente ao teu olho esquerdo
e caía sobre o ombro que ignorava Notre Dame
e outras catedrais.
O taxista prosseguia amassando o discurso
modelado pela perdição do mundo
num ofício de olaria donde saíam
c’um canecos e outros vértices
por onde me negaria a beber ou a brindar
a engrossar fileiras ou cavar trincheiras.
Mas deixei-lhe gorjeta.
Forma d’imaginar Júlio Dinis e morgadinhas
num fim de planta rosa quanto a questões sociais.
Já ao meu rosto reflectido no retrovisor
desenhei-lhe os lábios de Ana Cristina César
pudesse assim o meu beijo assemelhar-se a um blue.