Já não me lembro bem porque fiz estas fotografias. Acho que estava a questionar a minha incursão pela cerâmica. Nesse ano ia haver uma exposição, nas Belas Artes, e eu queria concorrer. Fotografei as peças para ficar com um registo. Estava habituada ao caixote da Kodak com que fotografava habitualmente e pedi uma câmara emprestada a uma amiga, irmã de um fotógrafo que até era conhecido naquela altura. Como sabia pouco de técnica, claro que as fotografias não ficaram boas. Lembro-me que mesmo assim enviei-as ao meu mestre, que na altura estava a residir em Paris, pedindo desculpa pela qualidade das fotografias, mas se ele apesar de tudo não me poderia aconselhar acerca da minha participação, se valeria ou não a pena. Para meu espanto, ele elogiou-me as peças de cerâmica, como habitualmente, mas sobretudo o importante para ele era que eu enviasse aquelas fotografias para uma exposição lá em Paris que tinha uma secção sobre natureza morta, ou a vida dos objetos, já não me recordo. Pedia-me que as ampliasse num tamanho maior, que as enviasse para ele que depois trataria de tudo. Segundo ele, seriam a grande revelação do ano (era uma pessoa muito dada a deslumbramentos por coisas simples e perdia frequentemente a noção do que dizia). As peças de cerâmica acabaram na exposição. Nunca consegui imprimir as fotografias. Na realidade perdi o filme. Tinha apenas estas provas de má qualidade que já tinham ido de Lisboa a Paris e voltado. Nunca mais pensei no assunto até que há uns meses, a desfazer-me do passado, descobri-as adormecidas no fundo de uma gaveta. Não me arrependo de terem ficado esquecidas.