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Nas Marianas, a terra nasce e morre na convergência de placas. A nova tem idade zero, a velha é do Jurássico. Os ossos dos dinossauros afundam-se no manto a uma taxa de 2 a 6 centímetros ao ano, e a radioatividade recicla o tempo.
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Em 1521, Fernão de Magalhães chega a uma ilha do Pacífico e é roubado.
Chama-lhe a Ilha dos Ladrões. Um galego deserta por medo à morte e aprende a língua dos nativos. Os CHamorus são a casta dominante.
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Em 1668, a Companhia de Jesus chega a Ladrões. Diego Luis de San Vitores chama as ilhas de Marianas, pela Virgem e pela Rainha de Espanha. Os soldados de Deus levam o inferno e as armas de fogo aos CHamorus, subsomem-nos e esmagam os crânios dos antepassados que os protegiam do mal.
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Em 1672, Matå’pang e Hurao matam Diego Luis de San Vitores. Charles Le Gobien grava o discurso de Hurao contra os espanhóis. O líder dos CHamorus acusa-os de trazerem a miséria, pragas e doenças sem remédio, de lhes roubarem a liberdade e os tornarem infelizes, em troca de uma felicidade que só existe depois da morte. Apela à coragem e crê que podem derrotá-los, mas as armas de fogo vencem, e o novo poder instala-se.
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Em 1571, jesuítas portugueses fundam o porto de Nagasaki para navios comerciais. Os japoneses suspeitam que um Deus que cria o mal não pode ser bom. Compram as armas de fogo, que estudam e tornam mais mortíferas. Com elas, Oda Nobunaga, Tokugawa Ieyasu e Toyotomi Hideyoshi unificam o Japão e invadem a Coreia. Em 1587, Hideyoshi expulsa os jesuítas. Dez anos depois, 26 cristãos são crucificados em Nagasaki e mais serão martirizados.
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Åntes na tiempo, os Taotaomo’na habitavam a terra junto com os vivos. São os espíritos dos CHamorus que viveram antes, e eram mágicos, gigantes e sábios. Os pescadores convocam-nos para saber porque a ilha de Guam está a desaparecer no meio. Descobrem que um grande peixe come a ilha pelos lados, e os homens não conseguem pará-lo. As jovens mulheres descobrem onde o peixe se esconde, e tecem uma rede mágica com as suas tranças. Atraído pelo canto das jovens, o peixe cai na rede. As mulheres salvam o que resta da ilha dentada.
06:00
Fo’na cria o mundo dividindo o corpo do seu irmão Puntan. Depois, lança o seu próprio corpo na terra e transforma-se numa rocha. Desta rocha brotam os primeiros CHamorus. Os clãs são matriliniais e a educação das crianças é fraternal, honrando a relação entre irmãs e irmãos. O homem mais respeitado do clã é o irmão, sobrinho ou tio da mãe mais velha.
07:00
Em 1741 restam 5000 CHamorus dos 150000 que viviam nas Marianas aquando da chegada da Companhia de Jesus. Em 1759, D. José I expulsa os jesuítas de Portugal. Em 1767 são expulsos do Império Espanhol. Dois anos depois, os jesuítas são deportados de Guam, no mesmo navio que trouxe os frades Agostinianos Recoletos. Voltarão 200 anos mais tarde, em 1968.
08:00
Em 1898, o capitão Henry Glass entra no porto de Apra em Guam e dispara 13 rondas do USS Charleston para o Forte de Santa Cruz abandonado. Os oficiais saem do Forte e pedem desculpa de não responder, mas não têm pólvora. Glass informa-os que os Estados Unidos estão em guerra com Espanha, e tomam Guam sem mortes. As restantes ilhas são vendidas pela Espanha aos alemães. Após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, o Japão fica a governá-las. Em 1941 os japoneses atacam Pearl Harbor e Guam no mesmo dia. Morrem 2421 pessoas no ataque, e 1170 CHamorus durante a ocupação japonesa. Em 1944, os americanos capturam Guam, Saipã e Tiniã. Morrem mais de 71000 pessoas.
09:00
Em 1938, Lise Meitner e o seu sobrinho Otto Frisch descobrem que o núcleo de urânio se divide em dois. Cunham o termo “fissão” para o processo. Meitner reconhece o potencial explosivo e
recusa-se a trabalhar na bomba. Em 1939, Leo Szilard e Albert Einstein escrevem a carta a Roosevelt que resulta no Projeto Manhattan. Em 1944, o alemão Otto Hahn subsume Meitner por ser judia e ganha o Nobel pela fissão nuclear, que não pode receber por a Alemanha estar em guerra.
10:00
Em 1945, o USS Indianapolis transporta urânio para Tiniã para a montagem final das bombas atómicas. Na viagem de regresso é atingido por torpedos japoneses. A tripulação afunda-se perante o olhar atónito dos peixes. Morrem 879 pessoas.
11:00
A 12 de Abril de 1945, Roosevelt está com uma dor de cabeça terrível e cai morto na cadeira. Truman assume a presidência. A 30 de Abril, Hitler comete suicídio e dias depois a Alemanha rende-se. A 16 de Julho, os Estados Unidos lançam a primeira bomba atómica no território de 19 povos indígenas, Navajo e Apaches. Truman autoriza o uso de armas nucleares sobre cidades japonesas. No domingo soalheiro de 6 de Agosto, os relógios param em Hiroshima e 78000 pessoas transformam-se em cinzas. “As almas japonesas ascenderam aos céus”, diz Robert Shumard do bombardeiro Enola Gay. Três dias depois, a estas as almas juntam-se as que assistiam à missa na Catedral de Nagasaki e mais 70000. No mesmo dia, o Exército Soviético invade a Manchúria e morrem 100000 pessoas. A 15 de Agosto, o imperador do Japão rende-se para salvar o que resta do povo japonês.
12:00
Em 1926, Hermann Joseph Muller aprende com as moscas que a radiação é mutagénica. A radiação danifica o ADN e impede a divisão das células. Quando a célula se consegue reproduzir, as células filhas podem morrer, ou sofrer mutações e tumores malignos.
13:00
Ebb Cade é um trabalhador de construção negro que sofre um acidente de viação onde decorre o Projeto Manhattan e dirige-se ao hospital. A 10 de Abril de 1945 recebe as primeiras injeções de plutónio sem o seu conhecimento. Será seguido por órfãos, crianças deficientes, prisioneiros, doentes considerados terminais e militares que serão cobaias de estudos sobre os efeitos de materiais radioativos em seres humanos. Ebb foge do hospital e morre de falha cardíaca.
14:00
Setsuko Nakamura tem 13 anos e está em Hiroshima quando cai a bomba. É uma hibakusha — sobrevivente da bomba — que foi exposta à radioatividade juntamente com 535000 pessoas. Testemunha a devastação desde o primeiro minuto e os efeitos agudos e prolongados da radiação nos corpos humanos. É crítica da atuação da Atomic Bomb Casualty Commission estabelecida em 1946 por Truman, que procura conhecer os efeitos da bomba ao invés de apoiar a recuperação das pessoas afetadas. Os hibakusha são discriminados pela sociedade japonesa que pensa que a radioatividade é contagiosa, e recusam-lhes empregos e casamentos por estarem “geneticamente danificados”. Os descendentes dos hibakusha temem pela sua saúde.
15:00
Em 1946, no atol de Bikini, pedem aos indígenas que saiam da ilha para os Estados Unidos testarem bombas atómicas “para o bem da humanidade e acabar todas as guerras”. Aceitam, dizendo “tudo está nas mãos de deus”. Desde 1945, mais de oito nações detonam pelo menos 2000 bombas atómicas em testes nucleares aéreos e subterrâneos, na grande maioria em terras indígenas, como nas ilhas Marshall, Polinésia Francesa, aborígenes australianos, Newe Sogobia em Nevada, Ilha do Natal, Hawaí, Cazaquistão e Uighur na China.
16:00
Kyoko Hayashi, hibakusha de Nagasaki, regressa ao deserto onde a primeira bomba atómica foi lançada para chorar as vítimas de todas as bombas atómicas. Sente uma afinidade profunda com as plantas e os animais do deserto e com todas as vítimas de violência colonial, incluindo das agressões do Japão à China, e da colonização da Coreia que resultou na morte dos milhares de trabalhadores forçados que se encontravam em Hiroshima e Nagasaki. A terra ferida é o seu corpo ferido. Kyoko quer desfazer o 9 de Agosto presente no silêncio dos mortos, nas gengivas que sangram e no filho que teme leucemia.
17:00
A 31 de Março de 2023, estão vivos 113649 hikabusha. Lutam coletivamente por direitos no Japão e conseguem do governo apoios sociais e cuidados de saúde. Compilam os seus testemunhos e criam a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares, vencedora do Nobel da Paz. Em tournée pelos Estados Unidos, visitam escolas para contar a sua história aos alunos. Muitos jovens não sabem que os efeitos da radiação continuam. O propósito não é envergonhar os americanos, mas dar a conhecer os horrores das bombas e a responsabilidade de acabar com as armas nucleares.
18:00
Os descendentes do USS Indianapolis conhecem Atsuko Iida, neta do comandante Hashimoto do bombardeiro que os vitimou. Hoje vive nos Estados Unidos, relata que se sentiu muito acolhida no encontro de sobreviventes, e está muito grata pelo respeito prestado ao avô. O capitão William Toti, presidente da USS Indianapolis Legacy Association, luta para combater os mitos criados à volta do acidente. Não foram os tubarões que vitimaram a tripulação, quer repor a verdade e contribuir para a sua conservação.
19:00
Em 2010, viviam nos Estados Unidos 148220 CHamorus originários de Guam, Marianas do Norte e Saipã. Craig Santos Perez é de Guam e vive no Hawaí. Procura manter vivas as suas tradições e quer enterrar a placenta da filha perto de casa, para que nunca se afaste do lar. A Marinha americana não permite, diz que deve ser queimada por ser um resíduo perigoso. Na sua antologia poética cria a hashtag #placentalpolitics. Em 2023 ganha o National Book Award de Poesia.
20:00
Joshua Rivkin procura o nome do avô entre as assinaturas de militares que figuram na bomba que cairá sobre Nagasaki. Não a encontra, mas podia estar lá: o seu avô esteve no Pacífico e foi um dos primeiros militares a estar na cidade após o bombardeamento. A radioatividade matou-o 25 anos depois. A 15 de Julho de 2021, Joe Biden declara 16 de Julho como o dia nacional dos Veteranos Atómicos. Trata-se de soldados expostos a radiação ionizante durante as explosões nucleares. Sofreram imensos problemas de saúde sem qualquer apoio do governo e juraram segredo mediante multa de 10000 dólares ou 10 anos de prisão. A obrigação de segredo foi levantada em 1996, permitindo-lhes contar as suas histórias.
21:00
A 21 de Junho de 1944, Robert B. Sheeks foi fotografado em Saipã a convencer a mãe de 4 crianças e um cão a sair da caverna para um campo de internamento. Robert salvou milhares de japoneses ao facilitar a sua rendição. Lutou para convencer os soldados americanos que não precisavam matar todos os japoneses que encontrassem, e que os civis japoneses não lutavam forçosamente até à morte. Supervisionou os campos de internamento em Saipã e convenceu os seus superiores a deixar as pessoas pescar e fazer agricultura coletiva. Com este trabalho foi possível alimentar os prisioneiros de guerra e fornecer peixe aos militares.
22:00
Desde os anos 90, cientistas russos estudam os fungos da Usina Nuclear de Chernobil que são atraídos pela radiação. Cerca de 200 espécies produzem melaninas, pigmentos escuros que absorvem a radiação e talvez permitam que os fungos a usem como fonte de energia. A microbióloga Ekaterina Dadachova sugeriu que estas espécies podem proteger os astronautas de raios cósmicos. Cladosporium sphaerospermum mostrou resultados promissores nos estudos de viagens a Marte.
23:00
Na ilha de Olkiluoto, Finlândia, constroem o primeiro reservatório do mundo para armazenar permanentemente resíduos nucleares a 450 metros de profundidade. A ilha tem a usina nuclear mais poderosa da Europa, operada pela empresa Teollisuuden Voima e explorada comercialmente desde 1 de Maio de 2023. A usina inclui a vinha mais a norte do mundo e um lago que produz esturjão para caviar.
24:00
Em 1985, o bombardeiro Kermit Beahan, que encontrou a aberta entre as nuvens para lançar a bomba atómica sobre Nagasaki, deseja ser o último homem a usá-la, mas recusa juntar-se à campanha de abolição de armas nucleares. Em 2009, George W. Bush declara a fossa das Marianas monumento nacional. No seu fundo encontram-se criaturas com resíduos nucleares nos corpos. Em 2023, Joe Biden aprova a reativação do campo aéreo de Tiniã. A 23 de Janeiro de 2024, o Relógio do Apocalipse do Boletim dos Cientistas Atómicos marca 90 segundos para a meia-noite. A 26 de Junho de 2024, nas Marianas do Norte, Julian Assange declara-se culpado de divulgar documentos roubados.