Número 5

29 de Maio de 2021

POESIA

Aos conservadores, cínicos e reaccionários do costume

MADALENA DE CASTRO CAMPOS

Lera algures
(Nietzsche?, um comentador de Nietzsche?,
um comentador de um comentador?, alguém
que falava por ouvir dizer?)
que não se deveria confundir a crítica com
o ressentimento, a amnésia com a profecia.
Mas, a cada maré baixa, via-os anunciar
que o mar desaparecia. A cada tempestade,
que avançava a última destruição.
Seria inútil, mas
alguém teria de lhes dizer
que já havia mar antes de haver olhos,
tempo e história antes das palavras que
as quisessem contar. E morte, e vida,
e paixão e atrocidade.
Não havia motivos para os pretender
esgotados.