Não é letra Rap,
nem tão-pouco namoro por SMS,
“Mas o que tu queres ao certo?
Eu só quero o que tu queiras.”
foi o repto para o Até ao Osso, um supranumerário com 24 páginas sobre paixões, feito pelos que quiseram e como quiseram — pequenos feitos únicos ou esparsas alegrias irradiantes por entre vapores da lida insana, tudo vivido na primeira pessoa.
Quiseram todos.
Todos são: Isabel Dores, escultora afeiçoada à alta montanha e aos mares de névoa; Nuno Vasco Rodrigues, um biólogo nos fundos azuis profundos açoreanos; Nuno Príncipe, médico intensivista, quase morto no deserto ali tão longe; Ricardo Kalash, um actor de teatro, a planar em queda-livre; Marta Soares, a pintora que produz um branco raro com vinhas velhas das encostas de Montejunto, com um desenho de Salomé Soares; Catarina Martins, uma académica a iniciar-se em danças do varão; Patrícia Miguel, a arquitecta na busca do pão brutalista inspirada em iconografia do antigo Egipto; Jorge Correia, um latinista pioneiro das novas tecnologias, cozinheiro multitarefa; Maria da Piedade, depois Maria dos prazeres após a revelação do caminho d’A Alegria Profissional; a Rota das Fontes na companhia de T!tz Vaga Bond, que não resiste em cada espanto; o desenho da capa de Joana Mosi, uma artista visual dedicada à banda desenhada, amiúde a tempo inteiro; o tempo geológico de Rui Pena dos Reis, geólogo; a paixão de Henrique Patrício por Safira Safada estrela de cinema; Adolfo Caboclo, o curador de arte, com a t-shirt boxe antifascista, de que é praticante.
E etc..
Ou seja, também estes testemunhos reais ou ficções de elevada paixão: o corpo adormecido, turista na minha cama pouco frequentada e mal habitada — Sebastião Casanova; a imagem da maratona antevista do sofá ou apenas um único momento da prova, o mais decisivo, quando desistes ou prossegues — Maria João Benquerença; o robalo baila no sopro do vento narrador onde a narração se faz Eco — JLB Pena dos Reis; o alto mar no barco fábrica, cujo fim é o lucro, e nada há de encantatório nisso — Henrique Loff Silva; o mecânico de bicicletas que sabe que não se assenta pedra sobre tijolo — David Sarmento; uma procrastinadora que planta rabanetes de formato semelhante ao testículo de um canídeo de médio porte e volta a falhar melhor — Leonor Gusmão; a canoa e os ombros da remadora — apócrifo, com fotografia de fotografia de PC Simões; Everything is Oil, o desenho minucioso, meticuloso, do fim das coisas, sem necrológios — Isaac.
Apenas paixão. A paixão pela paixão.
Têm-na. São 24, e perdem-se nela.
A Criação da Osso, Março de 2021
{2021-2023: 33 Ossos; 5 supranumerários; 9 Ossos do Dia (63 podcasts)}