Notas do arquivo

SLA/LS/VIS-1913-B014 Em 1912, Slavick viajava com frequência para Paris onde mantém contactos com a Sociedade dos Artistas Independentes (terá tido algum papel na organização da exposição Les Indépendants no ano anterior em Bruxelas). Numa das deslocações conhece Georges Braque (1882-1963), de quem seguia timidamente o trabalho e com quem já se tinha cruzado em diversas […]

Rudimentos de organologia

Veste o casaco, que está frio. Despe o casaco, que está calor. Não cortes o queijo com essa faca. Não bebas a cerveja nesse copo. Por que é que estás a olhar para ali? Por que é que te levantaste? Onde é que vais? Não achas? Pediste isso? (Mas tu nem gostas disso.) Não queres […]

A dentada

00:00 Nas Marianas, a terra nasce e morre na convergência de placas. A nova tem idade zero, a velha é do Jurássico. Os ossos dos dinossauros afundam-se no manto a uma taxa de 2 a 6 centímetros ao ano, e a radioatividade recicla o tempo. 01:00 Em 1521, Fernão de Magalhães chega a uma ilha […]

Ce que je crois

Nestes «Memorialismos» tenho-me exposto quase sem filtros, havendo quem neles tenha ouvido propriamente a minha voz a falar (é um grande elogio) e quem me recrimine o excesso de sinceridade. Cada homem é as suas convicções mais profundas e nesta última crónica eu quero retratar-me de corpo inteiro, analisando aquelas que me têm acompanhado durante […]

Hélder Bruno Martins: A música como o ar que se respira

“O ruído do quotidiano invade as nossas existências e retira-nos a capacidade de sentir. Sentir, verdadeiramente. Sentir, a sério”. A música tem essa pretensão: “a de criar um canal de religação com esses (cada vez menos e menores) redutos de humanismo e de humanidade.” Hélder Bruno Martins não se lembra de existir sem música. “Houve […]

Western para Mimi

Rolavam furiosas sobre o asfalto à beira mar, minutos após o manear das bacias, graciosas, a sair do Deal Bar. Tacões-compasso e fumegante aço charanga diletante, carroçaria cor de anis Seminal, mescal borbulhante, peristáltico. Háptico pano, ímpio lustra! o cano ártico de um calibre cromado salva de saliva seca e segura um cigarro no princípio […]

Antes do Verão

Não acontecia nada no jardim. O atraso do Verão fazia-se com as flores abertas à chuva e os insectos a passearem-me no corpo à procura de uma falha, de um erro, de um rasgo na espessura da pele, de uma caverna onde esconder a fome que os guia numa procura incessante pelo jardim. Neste lugar […]

As raparigas fazem o Verão – 3. Nove na pele do tigre

A Sara era irmã da Marta que era prima da Raquel que era irmã da Isabel que era prima da Rute que era irmã da Madalena que era prima do Paulo que era irmão da Lídia. Todos eles eram vizinhos da Maria que não era irmã nem prima de ninguém e acabava a escaleira fotográfica […]

Nunca foi menino, mas ria como uma criança

A corrente era forte, mas na outra margem havia pássaros, toiros bravos a pastar e valados desconhecidos.  Soeiro Pereira Gomes em Esteiros O meu Avô Leopoldino era o mais velho de sete filhos – uma família marcadamente masculina, criada no coração do Ribatejo. Foi o primogénito da Cristina e do Francisco. Depois veio o José, […]