CIANO – Lógica e Matemática
O deserto é o grande domador de oásis.
Os oásis alimentam-se de perdição.
Os oásis são ciano e o ciano a corte de reis e magos que se perdem no deserto («Todo o rei vai dar ao deserto»: assim ouvido em Roma) e o camelo o seu animal.
O camelo também é um animal muito matemático (vulgarmente serve de troca pela loira mulher de alguém – cf. Relatos de turistas a Marrocos).
O camelo é um acidente geográfico ou uma antropomórfica aberração: carrega montanhas nas costas (leia-se: onde outros vão a banhos!). Montanhas construídas para volvermos alpinistas e morrermos sob manto d’espesso silêncio; costas onde bordamos janelas debaixo de uma asa d’andorinha partida.
O camelo é um caracol que subiu ao quinto andar e parou à hora do lobo.
O lobo é primo do chacal, que come o camelo embora preferisse gazela e, se isto fosse uma fábula, preferiria mesmo uma Casal Garcia, mas é apenas um sistema imune_à_lógica, não obstante o título. Já o ciano é cianeto ressuscitado ou um vómito de esperança, como quem expressa o melhor voto, ou, então, um sapo transformado em príncipe (assassinado por Maquiavel) na garganta de um rei bem disposto.
Ilustração de Diogo Bessa