«Messieurs et mesdames
corto, agora, os cantos
à boca
para que
quando me olheis
possais rir melhor»
Malesdoutrem, 2015
Como espinha como osso
Há um verso
Um crivo que me crava
Palavras contra a garganta
Um verso onde dizes
Que te cortaram os pés
Para caberes no berço
À medida d’outro corpo
Um verso donde te levantas
Com pés de palha
Para atravessares o fogo
Por onde sobes
Com pés de barro
Entre picos de gelo
Um verso onde recusas
Pezinhos de lã
Para habitares palácios de soberba
Um verso onde dizes
Que só com pés imaginários
Constróis o teu passo de dança
E há a boca com que o dizes
E rasgas os cantos
Onde a violência s’esconde
Sob o teu verso há um cravo E sangra sangra