Senhor quarentão, bem apessoado, proprietário e com a vida feita, procurava senhora para relação séria. Acabou por encontrá-la através de colegas de escritório, uma moça bonitinha e limpinha, apesar de largar muito pelo, cujo silêncio o encantou. O escasso apetite sexual dela foi fazendo nascer nele uma ternura capaz de suplantar as necessidades que tinham dado início ao namorico. Casaram passado pouco tempo, mas a impossibilidade que gestava desde o início da relação acabou por vir à luz no dia em que a jovem esposa lhe confidenciou ter percebido o quanto o amava quando reparou no prazer que as suas sorrateiras emissões de sulfeto de hidrogénio, tão prejudiciais ao meio ambiente, lhe davam. Ele, apanhado de surpresa, e por não encontrar no seu repertório de reações a mais adequada, estacou, mudo, enquanto ruborescia de fúria e embaraço. Nunca mais foi capaz de privar com ela, tendo preferido, daí em diante, o desconforto da enxerga do quartinho interior. Passados dois meses, o divórcio, uma pena por ingenuidade que ele cumpriu com resignação: há erros que só têm desculpa quando cometidos antes dos trinta, trinta e um.