Ao Júlio e à Berta Ferreira
Há um ensimesmamento botânico
nas crianças F
que faz delas choupos fulgurantes
à passagem de animalejos
nas barrigas dos quais praticam
a mais antiga maternidade.
Há nas crianças F
uma estranheza localizada debaixo das unhas
com que escavam a mais tenra solidão
nos limites de uma hábil cercadura
que as segrega seiva opiácea.
Nas crianças F
há uma indelével marca sob a pele
que as abeira do perigo
como um terraço sem varandim
e uma atração que as puxa
como um pastor embriagado.
E um cão e um cheiro lácteo
no céu nenhuma consternação
sobre as crianças F
nenhuma estrela
cobrem-nas os animais que deixam pneuma
elas chamam-lhe bafo.
Há nas crianças F
uma profunda matemática de subtração
e uma gramática desordenada
que atravessam montanhas a salto
fossem um deus d’emigração
ou um úbere farto
às mãos cravadas plo sangue
que a fome larga o frio
prende plos pés.
Um desenho é vertido em solo de ninguém.
Ilustração de Diogo Bessa après @o_deambulador