Para a Martha
Passa-me a mão pla verve
Como alcatifa barata
Como relva acrílica
Como se estivesse à mão de semear desgraças
Como se fosse dorso
Onde espetar o trunfo da bandarilha
Ou o bicho cego a investir no vácuo
Passo-te a língua matinal dos gatos
Que sonham com as perguntas
E ronronando
Enrolam-se nas respostas
Estiradas num sol já frio
Passo-me com os salários
Mas não passo sem eles
Mete greve ó meu grave
Coração operário
Há um caminho agrário
Um vira e muita volta
A crescer nele
Ilustração de Diogo Bessa après @o_deambulador