A imagem da palma da mão dá-se a metáforas com sentidos distintos. Por exemplo, empalmar é ocultar na palma da mão ou fanar habilmente. Espalmar implica uma redução de complexidade, a passagem da mão fechada e do murro tridimensional para uma chapada aplanada que acalma uma discussão acalorada.
Espalmou uma mão nas ventas do senhor Inspector, e saiu.
Espalmou-lhe as mamas no tórax e o tórax na parede.
(Poeta em bloqueio lírico sacudida por forte sentido auto-crítico
Espalma a nêspera
Enfia-a no cu
Até que te passe a vontade
De escrever
Esses versinhos de merda)
Entrementes, há todo um sentido de gosto a maturar entre a língua portuguesa ser a minha pátria e uma língua espalmada de vaca (estufada).
Espalmas um insecto voador/ E observas que ainda não é Kafka/ Versos palmam-te/ Palavras que as mãos segregam/ Como excrescências líricas lês/Que aos 26 dias de Dezembro de 1914/ O jovem Hans Smith/ Cai entre trincheiras/ Do lado alemão a vitória é reclamada/ Por três balas a duas/ Do lado inglês a mesma vitória/Diz-se de quatro a uma/Sobre a terra incomum/ As mãos muito abertas de Hans Smith/ Destilam destinos velhos
Espalmou-se a ideologia com a idade.
Já não sabia o que fazer; tinha tentado tudo o que lhe vinha à memória. Mas sabia que aquele pedaço particular do seu passado se encontrava espalmado entre duas camadas irrelevantes de acontecimentos que, por razões que ainda não entendera, tinham ganho uma importância desmesurada. O problema (e tinha agora a certeza que era um problema), tinha sido de tal modo distendido que tinha ficado submerso pela paisagem de calmaria que a manhã seguinte lhe trouxe, no momento da visão daquele corpo silencioso, ainda mergulhado na obscuridade do quarto.
Espalma a minha boca para que o beijo me queime num segundo.
Espalma-me contra o peito com espanto e sobressalto.
Espalma-me com um só toque preciso e impiedoso. E, num espasmo, o meu corpo desfalece moribundo.
Conto metáforas: «Espalmado e emudecido (duas), assim está, após rescaldo (três), o incêndio lavrado pela noite calada (?).» — e, agora, mais três.
— Não sei como dizer, mas há na internet uma certa flatness, portanto, nada como irem a uma biblioteca, por exemplo. E assim se arranca uma salva de palmas com mais um anglicismo, dando a mão à palmatória por mais um contributo para a suavização social.
Espalmo o barro entre as duas mãos e fico a vê-lo moldar-se à minha força e movimentos. Assim tudo fosse tão maleável — pudéssemos nós moldar entre as mãos todas as hipóteses, espalmá-las com os dedos bem esticados, sem anéis nem medo de sujar as unhas, até o barro das possibilidades ser uma segunda pele a cobrir por inteiro as palmas das nossas mãos.
Mas num dia claro, o céu iluminado pelo sol permanece. Não é a pressão de uma tempestade que se aproxima, não é um ruído involuntário, não é a escuridão misteriosa de um céu completamente azul — é uma espécide de hibernação, uma pena que toca suavemente a face de uma pessoa adormecida, sensível a sinais de preguiça. É verão, mas é o que é. Mesmo os que não gostam do campo compreendem-no.
[Espalmeiras foi escrito, em simultâneo, por AMS, API, CJ, DB, FF, HB, LJ, LLP, MM e RAS, a partir de uma resposta do chatgpt: «Em termos sociais e emocionais, espalmar pode ter uma conotação metafórica. Pode referir-se a situações em que se diminui ou suaviza a intensidade de uma emoção ou conflito. Por exemplo, espalmar uma discussão acalorada envolve esforços para reduzir a tensão e encontrar um terreno comum, muitas vezes usando técnicas de mediação ou comunicação eficaz.»]