Número 4

15 de Maio de 2021

CASA & JARDIM

Eva foi abraçar uma árvore

M. SILVEIRA FERNANDES

Eva foi abraçar uma árvore. Escolheu um plátano, plantado no tempo da outra senhora na orla da mata mais próxima da sua área de residência. Não apenas pela proximidade, mas pelo diâmetro do tronco, apropriado ao amplexo, e a macieza do tronco, suficiente para incitar a comunhão. Mas depois veio o dono da árvore, escandalizado com o adultério, e as autoridades, em defesa da propriedade. Eva argumentou que conhecia o plátano desde pequena, que, na medida do possível a ambas as espécies, crescera com ela e que se tinham feito mutuamente àquele abraço. Não era, pois, a primeira vez que o adultério se consumava, nem a violação dos limites era inédita. A reiteração dos ilícitos, bem como a falta de uma justificação legalmente válida — as ânsias, embora legais, não estão ainda regulamentadas — convocaram nas autoridades a vontade de a punir de forma exemplar. À árvore, ninguém perguntou nada, não porque presumissem, talvez corretamente, que ela não responderia em tempo útil, mas porque não está dotada de personalidade jurídica.