Uma criança chega a casa e pergunta o que significa tempus fugit. Aconteceu há uns anos com a minha mais velha, na altura pré-adolescente, agora já formada e a trabalhar em Inglaterra, que cá ninguém paga o que aquela cabecinha merece. A dúvida provinha do pilar do viaduto da A57, disse-me, onde antes morava o entulho resultante da construção do condomínio Jardins Suspensos, T1 a T5, piscina. Estava lá com as amigas, como costumava, a pintar tags para consumo próprio quando viu o novo e enigmático grafito. Elucidei-a acerca das abordagens fonética e eclesiástica, acertei-lhe os atacadores do sapato direito, para que não andasse com um mais dependurado que outro, e expliquei-lhe que o que Vírgilio queria significar com aquela locução, originalmente fugit inreparabile tempus, é aquilo que nós, em português contemporâneo, designamos por “casa & jardim”. Pedi-lhe que não cobrissem a inscrição, ela e as amigas, com a expressão das suas identidades. Respondeu-me que era tarde demais.