Número 20

19 de Fevereiro de 2022

O ESTRANGEIRO NO LUGAR DO OUTRO

II. O cisne de Baudelaire

ABÍLIO HERNANDEZ

Pode um cisne simbolizar a condição do exilado, estrangeiro em terra distante ou na sua própria terra?

Escrito em 1859, “Le Cygne”, de Charles Baudelaire, foi publicado pela primeira vez na secção “Tableaux parisiens”, da segunda edição de Les Fleurs du mal, de 1861, durante a vigência do Segundo Império. Dedicado a Victor Hugo, ele próprio opositor e depois exilado desse mesmo Segundo Império, o poema de Baudelaire tem na condição do exílio o seu tema central. São várias as figuras de exilados, evocadas ao longo do poema. De todas, três se destacam: Andrómaca, um cisne e uma imigrante africana.

Andrómaca é a primeira figura que o poeta evoca: Andromaque, je pense à vous![i] assim começa o poema.  [L’]immense majesté de vos douleurs de veuve e o rio Símois, que ela, erradamente, julga ser o rio de Troia, introduzem de imediato o tema da dor e do luto, associado à condição da mulher exilada, obrigada a abandonar Troia após a queda e destruição da cidade pelos gregos. Baudelaire evoca aqui o episódio da Eneida (III, 300-302)[ii], que descreve o momento em que Eneias, fugido de Troia e chegado a Epiro, encontra Andrómaca à beira de um túmulo, oferecendo libações às cinzas de Heitor.

O dever de hospitalidade, através da disponibilização a um estrangeiro de um túmulo onde possa sepultar um parente próximo, tem tradição antiga. No Antigo Testamento, para poder sepultar Sara, em Kiriath-Arba, onde ela morrera, Abraão implora aos hititas:

Sou um estrangeiro e um hóspede entre vós; permiti que eu adquira, como propriedade minha, um sepulcro na vossa terra, para que eu possa retirar a minha morta de diante de mim e sepultá-la.”[iii]

Ao contrário do que sucede com Abraão, é negado a Andrómaca, na sua condição de estrangeira, um túmulo em que possa chorar a morte do homem que fora seu esposo. O túmulo está vaziocomo a vida de Andrómaca, a mulher curvada sobre a terra e reduzida à condição de gado desprezado pelos poderosos. Viúva de Heitor é a identidade que, por empréstimo, lhe é reconhecida, antes de se tornar uma exilada, depois escrava do filho de Pirro e por fim mulher e escrava de Heleno, que, entretanto, desertara para o campo inimigo:

Andromaque, des bras d’un grand époux tombée,

Vil bétail, sous la main du superbe Pyrrhus,

Auprès d’un tombeau vide en extase courbée ;

Veuve d’Hector, hélas ! et femme d’Hélénus !

Luto e negação de um gesto de hospitalidade é o que sobra a uma das muitas mulheres troianas, abandonadas durante a fuga de Troia, retiradas à força dos barcos para que os homens – os guerreiros – prosseguissem a viagem na mira de uma nova Troia (Eneida 5: 615-616). São estas as imagens que Baudelaire evoca e coloca em lugar enfático, no incipit do poema.

O mito, que não pertence ao tempo da História, que está para além dela, num tempo e em lugares que a imaginação dos povos soube criar, é evocado pelo poeta, ele próprio personagem do poema, no momento em que se encontra em pleno centro de Paris, na nova praça do Carrousel, em frente ao Louvre, uma praça mandada construir por Napoleão III, na década anterior, quando o presente da História mal se tornara passado. Uma praça que, ao abrir-se pela força das máquinas do Barão Haussmann, esventrara um dos mais populares quarteirões da cidade, habitado por boémios, artesãos, operários e artistas, e com ele soterrara também vestígios e memórias dos confrontos que ali haviam tido lugar em 1848. Era como se a revolução, inspirada por ideais em que se misturavam romantismo, socialismo e cristianismo, se tivesse transformado num mito tão longínquo como o de Andrómaca.

A segunda figura de exílio que o poeta convoca é um cisne, malheureux, mythe étrange et fatal, símbolo de uma beleza perdida que, sob o olhar do poeta que o observa, sempre na mesma praça nova do Carrousel, ergue os olhos vers le ciel quelques fois, comme l’homme d’Ovide na tentativa vã de se igualar ao homo erectus do poeta romano e se distinguir dos animais inferiores, cujos corpos os forçam a olhar, inclinados, para a terra e os impedem de olhar o céu. De novo, o mito. Após Andrómaca e a Eneida, de Virgílio, agora o cisne e as Metamorfoses, de Ovídio.

Em pleno centro de Paris, à beira de um riacho sem água, o cisne bate, aflito, as asas e arrasta as patas desajeitadas na secura do pavimento.  Tal como, após a tomada de Troia, Andrómaca é despojada do seu estatuto social e político; tal como Media, exilada em Corinto, perde o seu poder mágico e divino,[iv] o cisne, ridicule et sublime, perde, num charco sujo da cidade moderna, a beleza inicial e celeste que o aproximara dos seres superiores.

O cisne, diz o poeta, evadira-se da gaiola de uma ménagerie, um espaço destinado a colecionar animais selvagens em cativeiro, um tipo de estabelecimento associado à aristocracia e à nova burguesia rica, sem quaisquer preocupações científicas ou educativas, apenas uma forma de ostentação do poder político e económico dos seus proprietários. O cisne é, portanto, um fugitivo. Mas não só. Ele é também, como Andrómaca, um exilado arrancado ao seu beau lac natal e mantido em cativeiro na ménagerie.

Neste exílio urbano, longe do seu meio natural, o cisne perde o lado divino da sua simbologia inicial. Preso numa gaiola, sobrevive na aridez sufocante da inospitaleira cidade em expansão.  Como Andrómaca depois de Troia, como Medeia excluída do direito de cidade, a ave, agora prisioneira de um charco sem água, é a imagem de um passado perdido, em que usufruía do privilégio de uma relação direta com a sua casa primordial e de um elo sagrado com a natureza. Na nova praça que o imperador mandara abrir junto ao Louvre, o cisne confunde-se com o mal-de-vivre do poeta exilado na sua própria cidade.

E eis que surge a terceira figura de exílio. Nem mítica nem heroica, nem feiticeira nem ágil e nobre avec sa jambe de statue, nem portadora de uma fugitive beauté como a da mulher que ilumina a noite de Paris e fascina o poeta em À une passante, um dos mais belos poemas dosTableaux Parisiens. A terceira figura de exílio é a mais surpreendente, e a única das três com uma clara dimensão política. O poeta designa-a por la négresse, amaigrie et phtisique.

Esta figura de mulher, exilada como Andrómaca, como o cisne e como o poeta, e como os órfãos, os marinheiros abandonados na ilha, os cativos e os vencidos evocados na parte final do poema, esta mulher doente e frágil é, porém, bem diferente de todos eles. Caminhando, como o cisne, em passos inseguros sobre a lama que cobre a rua, irrompe no poema, não como um símbolo, uma evocação ou uma memória, mas como uma terrível e concreta realidade histórica, não do passado da História mas do presente da cidade, o tempo do Segundo Império de Napoleão III e de Georges-Eugène Haussmann, um tempo marcado pela extrema centralização na figura do imperador, apoiado pelo clero e pela burguesia, pela militarização da França, por um enorme mas desigual desenvolvimento económico, pela perda de liberdades, pelo trabalho precário, pela proibição da greve, pela expansão urbana e pela expansão colonial em África e no Oriente, e pela consequente exploração do trabalho de imigrantes, de colonizados como esta négresse que procura com o olhar fatigado les cocotiers absents de la superbe Afrique e se arrasta, sem eira nem beira, pelos mesmos espaços do poeta, pelas ruas da cidade luminosa, mas inóspita, a cidade que não conhece ou já não reconhece a hospitalidade, que enterrou as suas memórias históricas, ali mesmo, no exato local em que o poeta acolhe os exilados, em olhar solidário, em frente ao Louvre, onde escassos anos antes se tinha lutado pela liberdade. No exato local das memórias soterradas por um barão que, ao serviço de um imperador, constrói a capital do capitalismo florescente.

Uma muralha imensa de nevoeiro cerca a négresse, arrancada à sua África, ou talvez, como Andrómaca (mas no tempo da História e não já do mito) fugida da guerra, da fome, da doença e da violência do colonizador, e que agora, no presente não mítico mas histórico da cidade moderna e industrializada, busca, na memória, os coqueiros ausentes da sua África natal! Como Andrómaca curvada sobre o túmulo vazio, como o cisne arrastando as asas pelo charco, o nevoeiro intenso que a cerca não lhe permite ver para além da lama que lhe prende o caminhar.

É ela, a négresse, a migrante, a imagem mais poderosa de todas as imagens do poema e aquela que lhe confere o seu conteúdo político, justamente porque esta imagem não evoca um mito, ou um símbolo, mas uma figura humana. Demasiadamente humana.

Ao distanciar-se da cidade em que perde o seu flanar e ao recusar a nova arquitetura sem memória, o poeta personifica a figura do estrangeiro na sua própria terra.  No final do poema, o olhar solidário que abarca as três figuras de exilados estende-se a outras mais:

À quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais! à ceux qui s’abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!

Ainsi dans la forêt où mon esprit s’exile
Un vieux Souvenir sonne à plein souffle du cor!
Je pense aux matelots oubliés dans une île,
Aux captifs, aux vaincus!… à bien d’autres encor !
[v]

Na sequência da evocação das diversas figuras de exílio ao longo do poema, o uso anafórico de Je pense à não só estabelece a ligação entre essas figuras como marca a cadência do poema e acentua, ao mesmo tempo, a intensidade do olhar solidário do poeta:

Andromaque, je pense à vous !

Je pense à mon grand cygne, avec ses gestes fous ;

Je pense à la négresse, amaigrie et phtisique ;

Je pense aux matelots oubliés dans une île …

Ao contrário do que defende Walter Benjamin, não me parece que o poeta que no poema nos fala em nome dos estrangeiros e dos exilados represente ainda a figura do flâneur que Baudelaire canta em outros poemas de Les Fleurs du mal e em diversos ensaios. Em “Le Cygne”, perde-se a identificação do poeta com a rua, a ligação à multidão, onde o flâneur, incógnito, se sentia em casa. Em vez disso, ganha-se o sentido da perda. O poeta não flana, na verdade parece permanecer estático, na praça do Carrousel, oprimido pela memória de Andrómaca inclinada sobre um túmulo vazio, pelos sinais de impotência nas asas cobertas de pó do cisne e pelo passo cambaleante da mulher africana que pisa a lama da rua por entre o nevoeiro impenetrável. É verdade que o poeta ainda capta o movimento fugidio de pessoas solitárias, mas perdeu o distanciamento e a objetividade, está agora próximo delas, demasiadamente próximo e solidário, e identificado com elas na condição que os une: a de estrangeiro, de exilado, de ser sem lugar numa cidade sem multidão. Como a imigrante presa na lama, como o cisne em luta contra o pó seco do charco e como Andrómaca, curvada sob o peso do luto, o poeta perdeu o flanar que fizera dele o observador privilegiado das multidões. Estranhamente, o Paris de “Le Cygne” não contém multidões, assemelha-se mais a um deserto urbano que não respeita a escala nem o tempo de quem a habita. Dessa sensação de desajustamento nascem os versos mais citados do poema:

Le vieux Paris n’est plus (la forme d’une ville

change plus vite, hélas! que le coeur d’un mortel ).

O novo Carrousel e os palácios novos contrastam com o vieux Paris e os vieux faubourgs, mas também com o rio perdido de Andrómaca, com o belo lago natal do cisne e com os coqueiros ausentes da mulher africana.

Para Benjamin, “A cidade, dominada por um constante movimento, ficou paralisada. Torna-se quebradiça como o vidro, mas também, como o vidro, transparente – nomeadamente no que ao seu significado se refere. A estatura de Paris é frágil; toda ela está rodeada de símbolos de fragilidade. Fragilidade criatural – a negra, o cisne – e histórica – Andrómaca (…). O que as une é o luto por aquilo que foi e a desesperança em relação ao que virá. Essa debilidade é o elemento que, em última instância, mais intimamente liga a modernidade à Antiguidade. “[vi]

Esta modernidade – a nossa modernidade – de espaços sem lugares, de gente sítio, condenada à solidão, nasce no vazio das cidades. Dos lugares antigos – da viúva de Heitor, do animal cativo, da migrante e do poeta – resta a melancolia dos recordos indescartáveis, plus lourds que des rocs. Nesse mesmo espaço da cidade moderna, viu Benjamin a experiência do sem sentido que poderia emergir do mundo moderno.  Os espaços da modernidade são para ele, como haviam sido para Baudelaire, espaços em que o sentido do lugar é impossível e o isolamento inevitável.  No conflito entre o velho e o novo, o passado e o presente, a ação e a memória, é justamente a crise da modernidade que o poeta intui. 

O Paris de Baudelaire já não é um país natal, uma casa, um abrigo ou uma cidade hospitaleira. É uma terra de exilados. O exílio pressupõe o sentido da perda, o mal de vivre de poetas e exilados, mas é também, e sobretudo, uma questão política. Victor Hugo, poeta, exilado e político, escreve:

Un homme tellement ruiné qu’il n’a plus que son honneur, tellement dépouillé qu’il n’a plus que sa conscience, tellement isolé qu’il n’a plus près de lui que l’équité, tellement renié qu’il n’a plus avec lui que la vérité, tellement jeté aux ténèbres qu’il ne lui reste plus que soleil, voilà ce que c’est qu’un proscrit.[vii]

“Le Cygne” é o poema da alienação espacial e temporal, física e cultural, do exilado. Situado no Paris de Baudelaire e escrito na perspetiva da figura do poeta, este exílio é, em si mesmo, uma experiência da modernidade. O poema não é, pois, uma simples meditação sobre a condição do exílio; é, sim, uma fala, uma declaração, uma exortação de um exilado para outros exilados sobre o exílio.[viii]

Para Victor Hugo, o poeta exilado a quem “Le Cygne” é dedicado, Le droit incarné, c’est le citoyen; le droit couronné, c’est le législateur (…) l’exil, c’est la nudité du droit. [ix]

E, mais adiante, acrescenta:

Un homme tellement ruiné qu’il n’a plus que son honneur, tellement dépouillé qu’il n’a plus que sa conscience, tellement isolé qu’il n’a plus près de lui que l’équité, tellement renié qu’il n’a plus avec lui que la vérité, tellement jeté aux ténèbres qu’il ne lui reste plus que soleil, voilà ce que c’est qu’un proscrit.[x]

No seu exílio, a imigrante africana a quem só resta a honra, a colonizada vítima do droit couronné, é a trabalhadora importada a baixo custo pela cidade moderna.

Germinará no ventre da mulher negra colonizada o embrião da revolução da nossa posmodernidade?

… accueillir l’étranger, il faut bien que ce soit aussi éprouver son intrusion. Le plus souvent, on ne veut pas l’admettre. (…) Cette correction morale suppose qu’on reçoit l’étranger en effaçant sur le seuil son étrangeté : elle veut donc qu’on ne l’ait point reçu. Mais l’étranger insiste, et fait intrusion. C’est cela qui n’est pas facile à recevoir, ni peut-être à concevoir.[xi]

***

Le Cygne

À Victor Hugo

I

Andromaque, je pense à vous! Ce petit fleuve,
Pauvre et triste miroir où jadis resplendit
L’immense majesté de vos douleurs de veuve,
Ce Simoïs menteur qui par vos pleurs grandit,

A fécondé soudain ma mémoire fertile,
Comme je traversais le nouveau Carrousel.
Le vieux Paris n’est plus (la forme d’une ville
Change plus vite, hélas! que le coeur d’un mortel);

Je ne vois qu’en esprit tout ce camp de baraques,
Ces tas de chapiteaux ébauchés et de fûts,
Les herbes, les gros blocs verdis par l’eau des flaques,
Et, brillant aux carreaux, le bric-à-brac confus.

Là s’étalait jadis une ménagerie;
Là je vis, un matin, à l’heure où sous les cieux
Froids et clairs le Travail s’éveille, où la voirie
Pousse un sombre ouragan dans l’air silencieux,

Un cygne qui s’était évadé de sa cage,
Et, de ses pieds palmés frottant le pavé sec,
Sur le sol raboteux traînait son blanc plumage.
Près d’un ruisseau sans eau la bête ouvrant le bec

Baignait nerveusement ses ailes dans la poudre,
Et disait, le coeur plein de son beau lac natal:
«Eau, quand donc pleuvras-tu? quand tonneras-tu, foudre?»
Je vois ce malheureux, mythe étrange et fatal,

Vers le ciel quelquefois, comme l’homme d’Ovide,
Vers le ciel ironique et cruellement bleu,
Sur son cou convulsif tendant sa tête avide
Comme s’il adressait des reproches à Dieu!

II

Paris change! mais rien dans ma mélancolie
N’a bougé! palais neufs, échafaudages, blocs,
Vieux faubourgs, tout pour moi devient allégorie
Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des rocs.

Aussi devant ce Louvre une image m’opprime:
Je pense à mon grand cygne, avec ses gestes fous,
Comme les exilés, ridicule et sublime
Et rongé d’un désir sans trêve! et puis à vous,

Andromaque, des bras d’un grand époux tombée,
Vil bétail, sous la main du superbe Pyrrhus,
Auprès d’un tombeau vide en extase courbée
Veuve d’Hector, hélas! et femme d’Hélénus!

Je pense à la négresse, amaigrie et phtisique
Piétinant dans la boue, et cherchant, l’oeil hagard,
Les cocotiers absents de la superbe Afrique
Derrière la muraille immense du brouillard;

À quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais! à ceux qui s’abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!

Ainsi dans la forêt où mon esprit s’exile
Un vieux Souvenir sonne à plein souffle du cor!
Je pense aux matelots oubliés dans une île,
Aux captifs, aux vaincus!… à bien d’autres encor!

— Charles Baudelaire



[i] Charles Baudelaire, Les Fleurs du mal. Paris : Garnier-Flammarion, 1964, pp.107-108.

[ii] Vergílio, Eneida. Tradução de Luís M. G. Cerqueira, Cristina Abranches Guerreiro e Ana Alexandra Alves de Sousa. Lisboa: Bertrand Editora, 2020.

[iii] Bíblia Sagrada (Génesis 23, 4). Lisboa: Difusora bíblica, 1966, pp. 49-50.

[iv] Abílio Hernandez, “O estrangeiro no lugar do outro: I – A Medeia, de Christa Wolf”, in OSSO, Dezanove, 5 de fevereiro de 2022, 4-7.

[v] Deixo aqui estas últimas estrofes na versão de Gabriela Llansol:

[aqueles] que perderam o jamais perdido,

os que bebem o próprio choro

E procuram a teta da dor como se fosse a loba do consolo

(…) os órfãos sem pão

[E] esquecidos numa ilha Marinheiros

Cativos e vencidos de toda a espécie

E outros cujo grito ainda não se ouve.”

Charles Baudelaire, As Flores do Mal. Versão de Maria Gabriela Llansol. Lisboa: Relógio D’Água, 2003, pp. 194-199.

[vi] Walter Benjamin, A Modernidade. Tradução de João Barrento. Lisboa: Assírio e Alvim, 2006, p. 84.

[vii] Victor Hugo, “Ce que c’est l’exil.” Actes et paroles : Pendant L’exil (1852-1870). Paris: Collection Nelson, p. 15902. https://read.amazon.com/?asin=B00CDAWULW.

[viii] Stéphanie Bundy, “Exile in modernity: the localized dislocation of Charles Baudelaire’s Le Cygne”, in English and Comparative Literary Studies, Spring 2009, 19.

[ix] Victor Hugo, « Ce que c’est que l’exil », in Actes et paroles II : Pendant l’exil 1852-1870. Œuvres complètes, p. 15900. https://read.amazon.com/?asin=B00CDAWULW.

[x] Victor Hugo, idem.

[xi] Jean-Luc Nancy, L’Intrus. Paris: Galilée, 2000, pp. 11-12.

… acolher o estrangeiro deve também significar experimentar a sua intrusão. Na maioria das vezes, não queremos admiti-lo. (…) Esta correção moral supõe que se acolha o estrangeiro apagando a sua estranheza na soleira da porta: como se <nunca o tivéssemos acolhido. Mas o estranho insiste e intromete-se. É isso que não é fácil acolher, nem talvez conceber.” (Trad. minha).