SLA/LS/VIS/EXP-C021-F04
A paisagem surge como um dos temas de eleição em Slavick, a par com a sua atividade experimental (talvez a que apresenta maior preponderância no seu espólio). Não se trata apenas de uma exploração visual da paisagem, ou de um mero registo de pontos de vista particulares sobre o espaço (o que a fotografia é sempre), mas de uma tentativa de reflexão sobre a natureza e a essência da representação da paisagem. Nos seus escritos, Slavick reflete sobre a ideia de paisagem através da representação, mas igualmente sobre o sentido da própria representação.
Há uma pergunta frequente que aparece nos seus cadernos: O que represento com esta paisagem? A paisagem que eu vejo ou uma ideia de paisagem que me surge através do que eu vejo e desse modo o espaço é totalmente irrelevante? A partir destas interrogações, constrói uma reflexão sobre os diversos constituintes da paisagem, inventariando-os e descrevendo cada elemento, a relação que cada um tem com o espaço e uns com os outros como se de uma exploração arqueológica se tratasse. Esta atenção às particularidades de cada elemento tinha a sua história traçada desde o início da escola de Barbizon. E se houve fotógrafos que já tinham explorado a natureza desse modo, como Le Gray (1820-1884), nenhum o fez de forma tão obsessiva e sistemática. Slavick liberta a paisagem de qualquer acontecimento humano, focando a sua atenção nos elementos naturais que se alinham no seu campo de visão. São paisagens mínimas, muitas vezes fragmentadas, como se procurasse uma base comum à constituição da paisagem. Consciente de que a paisagem é uma construção, interrogava-se sobre aquilo a que chamava a possibilidade de ocorrência de uma paisagem e que lhe podia surgir de elementos dispersos no espaço e não necessariamente naturais. Interessavam-lhe também as paisagens interiores e as invisíveis, que lhe eram sugeridas pela apreensão ou consciência de determinadas características do arranjo ou disposição espacial. Em alguns dos seus trabalhos experimentais, incluindo aqueles em que não utilizou uma câmara, mas apenas as interações da química fotográfica sobre o papel, Slavick descrevia esses trabalhos como a construção de uma possível paisagem fotográfica.
Quanto a esta imagem em particular, poucas indicações existem nos seus cadernos. Temos uma indicação no verso, a lápis, que diz “da viagem a Espanha e Marrocos com J-B”. Trata-se provavelmente de um amigo que tinha em Paris, Jean-Baptiste, mas de quem não se conhece o apelido, apenas que tinha adotado esse nome por conveniência, uma vez que era natural de uma cidade no Báltico. A data, pelas anotações no caderno onde estava a fotografia, andará por volta de 1905, mas não é certo que a fotografia tenha sido feita nessa altura. É um exemplar que estava rasgado, com marcas de cola no verso, vestígios de tinta na superfície da imagem e percebe-se que o negativo foi intervencionado, com partes mascaradas, provavelmente para uniformizar o céu bem como para disfarçar alguns elementos que poderiam distrair da visão do afloramento rochoso que parece erguer-se como se fosse uma montanha. É uma prova em goma bicromatada, aparentemente vinda de um negativo com boa definição nos pequenos detalhes. Poucos indícios nos dão a escala real das rochas e essa seria uma das intenções de Slavick. Deixar-nos construir a paisagem a partir do nosso desejo.