Número 1

17 de Abril de 2021

OSSO Um

Carlos Júlio

Isto anda tudo ligado, disse o poeta do Vává – o percurso de uma vida, o andarilho de bebé, a errância pela cidade, um movimento eterno, um réptil voador, o trânsito de férias na óptica das correntes da economia, uma fotografia dos anos noventa de oitocentos, a diacronia das palavras – tudo mudáveis coisas ligadas no OSSO Um, que sai hoje, pontual.

Um salto cosmopolita a abrir. O primeiro beijo, digno da sequência final do Cinema Paraíso, muito antes do corte de cabelo premiado em Genebra, nos palcos actriz, encenadora, sindicalista, Carla Bolito revela-se a Andreia Silva, na segunda entrevista a pessoas comuns com vidas notáveis.

O andarilho de bebé. Deambulações do Dr Pichón, mais descontraído no segundo programa, a ganhar familiaridade com a partenaire, quando, findos os devaneios poéticos, já desligado o gravador, o ditame terrível.

O desejo, o apetite e a garra numa iniciação à nova cidade. Uma deriva sinuosa, com incursões autobiográficas, que obrigam a um constante descer do texto ao rodapé e a subir para o recomeço, com a promessa final – que desplante – de “voltar com mais tempo: aos rituais, às cidades, às mulheres”.   

Estudos de movimento em três tempos, de Ostraliana, 3 frames num gif na edição digital, 3 vinhetas sequenciais em papel. Esopo sem moralizar, a nêspera quieta calada zás, transfigurada nas desventuras do (Camelo) leitor entalado no espaldar, em repetição eterna.

Agora um réptil, Crocodylus porosus, um crocodilo de água salgada que voa. Sigamos Rita Serra no voo torrencial desabrido em vertigem que nada tem de fábula, “é assim que voa baixinho, abaixo do radar, ofuscado pelas penas de quem só vê nele malas, carteiras e sapatos.”

Da água marinha para a solidez salobra da economia mundial (Harvard salgada, a doce Chicago, vd. Wikipedia). M. Silveira Fernandes, coerente na defesa do aprumo, porém sob um assomo melancólico que não consegue esconder, afinal, uma nostalgia hippie.

A história da fotografia em fascículos, por Francisco Slavick. O quimigrama, a luz das estrelas, “matéria do universo que se deposita e faz imagem” – um celestografo de August Stringberg (continua).

Um dicionário sério de palavras a perder. A fita de tempo do uso e desuso de expressões insuportáveis, Luís Januário a brincar prenhe de resiliência, a atempada troika, estás a ver?

Na capa, a borboleta preferida da fiel leitora, o Esfenoide.


COLABORAM NESTE NÚMERO:
Andreia Silva | Carla Bolito: A adolescência numa Coimbra efervescente e a exaltação da arte | Caixa Alta
M. Silveira Fernandes | A sustentabilidade da economia mundial | Casa & Jardim
Dr. Pichón R.| O andarilho de bebé | Pais e Mães para Filhas e Filhos
Frederico Martinho | Iniciação à cidade | O Desplante
Luís Januário | Dicionário de palavras (e expressões) insuportáveis | A Canforeira de Bencanta
Francisco Feio | Notas do Arquivo
Ostraliana | 1 | Três Tempos
Rita Serra | Voar baixinho