Advento
Quando a espera é a ausência em que ressuma
a promessa da enchente que a revela
Catecismo
Severo o rosto erecta gravemente adorada
das mãos uma alça a saia e a outra acaricia
a nuca do donzel aos seus pés ajoelhado
Ordenação
Descinge o cavaleiro as armas junto ao leito
para adorar a amada que arma cavaleiro
Anunciação
Gestação do desejo que o dilata
quando os teus dedos ágeis e precisos
no delírio do tempo transtornado
industriam estancando-o no seu arco
o relâmpago cuja flecha tarda
à espera da enchente que a alucina
Revelação
Furtiva voz que acende na febre de infância
do teu leito de irmã desfeito um leito em branco
Ascensão
Ascende a mão nas pernas sitiadas
pelo esplendor sombrio que a acomete
na boca que os seus dedos cega e bebe
e aos dedos que confunde se entreabre
Propiciação
Suplício dos folguedos no ócio deliberado
do passeio dos lábios que bebem e semeiam
estrelas vagabundas nas coxas transtornadas
Expiação
Apertas entre as pernas a almofada
em que te esfregas mais quando reclamas
do grande espelho ao fundo frente à cama
desfeita a minha febre que amarfanha
o linho dos lençóis que a tua escalda
Purificação
Começa por tocar-se brandamente
para distrair primeiro o pensamento
do cuidado de si que o corpo prende
à sujeição que o muda em seu agente
Depois ondula os dedos sobre a concha
entreaberta no côncavo da sombra
e o seu divagar que a tarde alonga
sonha a morte de deus e solta o tempo
Monte Tabor
Porque afinal só tu és em ti própria
a própria outra em sonhos que a teu lado
o outro lado do sonho sonharia