O capitão Potemquim
projekta-se…!
na sombra
farta do próprio,
individualismo.
Tripulando recorda,
a embarcação (alugada),
com saudade
da sonoridade.
Palavras em espanhol as ouvia, onde
quer que fosse, em qualquer lugar:
Um bar.
Um aeroporto no Porto.
O hall de um prédio em Alvalade.
Entravam pela janela, na corrente de ar:
“Entonces ¿cuántos son?”
“No lo sé mamá…”
Sua mãe lhe havia dito, certa
vez, antes de partir:
Esperava (MESMO) que ele se apaixonasse
novamente, muito urgentemente.
Para bem dele. Para bem dela.
Para bem de todos os que cá ficassem.
Pois ninguém, gosta de ver
um capitão, embaraçado,
numa pobre embarcação sem beira
nem eira a viver,
do ouro de sua mãe
tendo ideias e outras coisas que, ninguém
sabe dizer muito bem.
No miasma da contradição:
muitos “ses…”; muitos “quandos…”
de vez em quando, se tanto,
de tanto em tanto tempo.
Capitão era de vestir mui bem,
frota de fatos feitos, comprados
por sua mãe, gravatas
de seda, nácar, mostarda
pálida e pinça dourada
formato de chave sextavada, embora
não pudesse abrir praticamente nada.
“¡Mira mamá, un zorro!”
“¡No lo toques María!”
Pobre pequena, chorava, no hall de entrada
Havia de ter caído ou coisa parecida.
E como cair, pode ser
por vezes, edificante!
Do ponto de vista do edifício,
que desbaba.
Ressurgimento
que desaba.
Reaparecimento
abismal do precipício.
E nas águas paradas, brumas,
onde navega Capitão no seu “Paradigma”.
A Norte salvará a vida.
Ou nem tanto, pois, por vezes,
dava a sensação de remar com rumo.
Recordava, recordava sem adormecer,
por vezes pintava para tornar as memórias mais vívidas, não?
Uma pequena palavra
que todo o sentido muda, ou a falta dele bem
como o não sentido
e o já não sentir há muito,
tempo, há tanto.
Chuchando um dos seus
charutos habituais, de nome
patronímico papagaio guarnecido
no rótulo colorido e marca d’água
que rodopiava entre os molares,
onde eram já evidentes, sinais de icterícia.
Talvez fosse tudo uma ideia — pensava ele
— esta coisa de “ser”.
De que valia ser, a não ser
para si próprio, ou para quem
podia munir-se de todos
os ingredientes necessários,
para uma avaliação concisa, precisa, parecia
compenetrado em parecer.
Parecer apenas e todos os dias,
ser apenas de tanto parecer
E sem dar a morrer, conhecer
O eu verdadeiro, seu.
Falsificaria a sua identidade espúria,
tornando-a à maneira!
Grandespingarda!
Grand pestola!
Finalmente uma identidade
com que se identificava.
Não precisava, de estar
sempre a enumerar
o ónus da desvirtude,
sob o falso pretexto
de se manifestar, em paz,
com a sua mediocridade.
Antes enumerar todas as Vic-tórias!
Todas as GÊ-ÉL-Ó-ÉRRE-Í-HÁ-GLÓRIAS!
Realizar todas as histórias,
que deram uma ficção.
Todas as memórias que não
precisava já de lembrar,
pois ele era
todas as memórias de si.
Próprio de si
e de si próprio estava cheio.
Pôs-se a navegar.
Não conseguia evitar, mesclar
ficção e realidade.