Veste o casaco, que está frio.
Despe o casaco, que está calor.
Não cortes o queijo com essa faca.
Não bebas a cerveja nesse copo.
Por que é que estás a olhar para ali?
Por que é que te levantaste?
Onde é que vais?
Não achas?
Pediste isso? (Mas tu nem gostas disso.)
Não queres antes ouvir música?
Não queres antes ver televisão?
Não queres mudar de canal?
Por que é que te sentaste na cadeira?
Por que é que não te sentas no sofá?
Não pões sal nisso?
Não preferes com pimenta?
Já pagaste a conta do telemóvel?
A que horas é que chegas?
A que horas é que sais?
Tens falado com o coiso?
Já falaste com a coisa?
Sempre vais falar com ele?
Faz antes assim.
Não achas?
Não ponhas isso aí.
Essas calças não estão muito apertadas?
Não andes com essas meias à terça-feira.
Não vistas essa camisola ao sábado.
Não queres antes ir a Lisboa?
Não preferes ficar em casa?
E se fôssemos ao café?
Onde é que puseste o comando?
Queres que eu te faça isso?
Dá cá isso.
Deixa cá ver.
Não pegues nisso assim.
Não pode ser amanhã?
O que é que fizeste hoje?
Já tomaste os comprimidos?
Não achas?
Já viste como está a planta?
Quando é que mandas arranjar a torneira do lavatório da casa de banho de serviço cujo gotejar percorre esta casa e me ecoa nos ouvidos não sei como mais ninguém dá por ele parece que é toda a gente surda privando-me do silêncio de que necessito sem o qual não posso viver é mais importante que o próprio ar que respiro é como se o mundo me violasse num dia sem parança sem o alívio das noites sem a paz numa interpelação constante e maquinal?
Já cheiraste aqueles coentros?
Já sentiste o toque desta ganga?
Já saboreaste esta malagueta?
Não preferes em azul?
Por que é que compraste verde? (Mas tu nem gostas disso.)
Não achas?
Deixaste a porta fechada.
Deixaste a janela aberta.
Não deixaste a toalha dobrada.
Qual é o teu preferido?
Não ponhas as chaves aí.
Já pensaste no próximo fim de semana?
Onde é que estiveste hoje?
Por que é que estás a falar assim?
Tens uma pestana encravada.
Estás a ficar com as costas curvadas.
Tens uma coisa na testa.
Por que é que fizeste essa cara?
Não olhes dessa maneira.
Tens a certeza de que não queres vinho?
Não estás a beber água a mais?
Não comas isso, que faz mal.
Onde é que o conheceste?
Não achas?
Já tinhas ouvido falar disto?
Se calhar devias ir ao médico.
Se calhar devias ir à bruxa.
Por que é que nunca mais quiseste?
Não me respondes?
Não estás a ligar ao que eu digo?
Ainda te dói a cabeça?
No que é que estás a pensar?