Em Sierra Gorda, a água sai exclusivamente das torneiras, num fluxo determinado pelo consumidor, de forma a que se precipite apenas onde e quando a sua presença é necessária. Nunca em gotas inconstantes, a horas erradas, em locais — todos os locais — em que a sua presença possa causar inconvenientes: no estendal, no mármore dos degraus, nos cabelos acabados de secar ou onde quer que as bactérias possam escapar à desinfeção. Ademais, a escassez de árvores e outra vegetação torna a vida fácil às vias respiratórias das crianças alérgicas. Não há muitos problemas em Sierra Gorda: as vespas, os escorpiões e as mudanças da hora legal, que ocorrem em sentido contrário ao do centro do mundo. O trânsito de camiões entre as minas a céu aberto, de onde parte o cobre para a eletrificação do mundo, e o porto de Antofagasta, bem como a breve excitação do Festival del Desierto, em fevereiro, trazem a desvantagem da adaptação à diversidade, mas esta é compensada pela sua previsibilidade. Só aquela vastidão e o silêncio do deserto, que por vezes se instala, continuam a impedir a eleição da comuna de Sierra Gorda pela Economist como um dos dez melhores lugares do mundo para viver.