[Estou, eu] mais velho do que nunca,
mais velho ainda do que quando nasci,
e pedi para ver
os sapatos das noivas.
Disseste-me
que lá fosse eu,
e eu fia.
Tramando as pregas, duas a duas, com mãos ainda curtas,
caçava e folgava duas vezes para chamar a atenção.
Semblante de regozijo, lá do cimo,
do castelo de claras, de onde
ecoava seguinte, o enigma:
“Diz, meu amor?”
“Posso ver os teus sapatos?”
(Oh que emoção. As crianças são mesmo incríveis, não são?)
Num instante, ficava coberto de todo
aquele cetim merengado. Imagine-se,
um soldado solitário no cume de um bolo
de casamento, de chumbo,
dada a densidade da atmosfera protuberante.
Casei-me com todas as noivas que até mim desciam
cobrindo-me com o olhar cândido e revelando
o tornozelo para que pudesse tê-lo:
O sapato de salto, alto branco
Sandália, por vezes, afivelada ofuscava
a suspensão do tempo, mas
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recordo a continência gélida
do vestido branco que me envolvia
quando conseguia
exatamente aquilo que queria.
Oh como quero morrer e acordar ao teu lado!
Cristalizada na lágrima em apneia
Com o gato aos pés e as flores estranguladas, vertendo
qualquer seiva espúria na sua existência bela e finda.
Dá-lhes tempo à medida que ele passa,
corre-se sempre o risco
de se saber o que se quer.
Corro desalmado atrás de um ar
Ladino lar, plácido, domino-me,
sem ainda ter percebido
para que serve aduzir sem nunca ter
e querer sempre ver o lustre conubial
que te cobre como glaçage simples.
Técnicas de pastelaria célere.
Séria correria ao longo do longo
salão.
Desembestei-me por cima da sobremesa!
Farófias no sobretudo azul
de veludo tímido e túmido
esquálido, em matéria de grandes dizeres.
Por fim cansei-me e cresci,
Não posso andar aí
a pedir às novas noivas que me mostrem o calçado.
Noite de gôndolas, charutos de longa
tripa. O fato melhor e a forma
do envergar encontra-se
num lugar longe dos comensais ensossos,
chupando as clavículas do banquete.
Alegre prurido de heroísmo pícaro.
Alardeado. Pobre diabo velho.
Vou-me encontrar.
Eis que entra o noivo, abrindo as portas com a cabeça!
Montado numa mesa redonda, de saias esvoaçantes
e rodinhas de supermercat.
Pedindo a todos que cantem muito a hora da sua alegria:
Ai que lindo este dia!
O pai vomita na Vichyssoise,
O primo pugnaz destemido decide pelear,
A mãe aproveita para fumar um cigarro.
A avó não compreende o que se está a passar.
Os padrinhos inflamados preparam-se para arrulhar
Éferreás e outras modinhas da faculdade.
E num momento só nosso, que por mais
ignito jamais poderá o futuro apagar,
destino-me a inculcar,
Se debaixo do seu vestido lacustre,
se importará a noiva de mostrar
O calçado que traz no pé.