Número 8

10 de Julho de 2021

POESIA

SOUTHERN NOIR: III. Conclusão

SUSANA ARAÚJO

A único epílogo possível é o contrário de todas as possibilidades, a vida para além de todas as mortes, o senso comum roubado a si mesmo, uma rendição. Descobre-se o criminoso mas nunca se segura um crime. Um crime é sempre outro, opera continuamente noutra estrada. Regressamos, no entanto, a qualquer coisa: um braço? Ficou, realmente, aqui a beata dobrada do teu cigarro. O final é uma última curva e chega até nós de raspão. Ou, fazendo uso do jargão, é um obliquo ponto de exclamação à queima roupa:


Começam sempre pelo fim
estes poemas
como qualquer thriller
como dedos
sujos das unhas aos nervos
também óbvios


também eles
em frases curtas
hasteados a um gume
pela ferida crua
pela fera na rua


A caçadora de gabardine bege não pode,
afinal, retirar o rapaz da barriga do lobo
fazê-lo sair intacto com o chapeu vermelho
e o resto também vermelho – já tudo da
mesma cor.


É de fraca circulação este guião
policial, este conto, esta dúvida
em modo terciário, foragida
flor de um neoliberal mistério
lábio que reencontra o outro lábio
mesmo morto.