Não sabes como matéria exacta o momento a partir
do qual começaste a dominar a arte de entrar num táxi
mas sabes que se te perguntassem em que ofício és mestre
identificarias esse mesmo.
E, antes, entrar num táxi tinha qualquer coisa
de atravessar o Nilo não às costas
mas dentro da boca de um crocodilo
com o coração apertado
contra a fileira dos seus 58 a 72 dentes
evitando a cloaca
controlando os movimentos indolentes
da sua preguiçosa caixa torácica.
Por hábito não tens desdenhar do mundo
ou tiranizar o corpo
nada de comum com um anacoreta
mas entrar num táxi tinha qualquer coisa
de habitar uma cela solitária
onde um Deus demasiado presente te guiava
um Deus uivante no qual adivinhavas
a estrutura de cada folículo
como se fosse a vida complexa do vizinho do 2º esq.
Não sabes o milagre operado mas não foi o da multiplicação
e, agora, entras num táxi como num exercício que te é caro
onde assumes a despesa da conversa
ou te enfias no silêncio que te vem comer à mão