Gabinete de Curiosidades
Notas do Arquivo
SLA/LS/VIS/EXP-C016-010 Não é comum encontrar representações do corpo em Lazar Slavick. Por regra, a presença humana está ligada a fotografias de circunstância em que aparecem alguns amigos ou desconhecidos ou ainda transeuntes ocasionais em cenas que regista nas cidades por onde vai passando. Existem alguns nus, nada de extraordinário e pouco mais. Por vezes […]
Pó das estrelas
Caro A, Espero que esta o encontre em boa forma, bem como aos seus. Sei que não temos qualquer contacto um com o outro há muitos anos, pelo que talvez a minha missiva o surpreenda — afinal, ditariam os costumes e a distância geográfica que entretanto se interpôs entre nós que nunca mais nos falássemos. […]
Dar a cara
“Vinte e cinco raparigas de Hiroshima chegaram a Nova Iorque transportadas pelo exército dos Estados Unidos. Estão a ser tratadas cirurgicamente no Hospital do Monte Sinai absolutamente sem custos. Esta noite, queremos que conheçam duas destas raparigas. Ambas viveram o terror do bombardeamento atómico. Para evitar causar-lhes qualquer embaraço, não vamos mostrar as suas caras”. […]
As Leis da Permanência
Na caixa da Motosserra, modelo CS42, cilindrada 45.6cc, potência 1800w, A Ideia da Europa é arrumada junto à Viagem ao Fim da Noite, numa solução não muito feliz. «caralhos fodam tudo isto», as casas de jacintos e margaridas literárias, penso. A Mad envia mensagem dizendo que a bastonada de um polícia, dependendo do sítio onde […]
A arte bruta de onde emerge a luz
Os desenhos saem com fúria, são gritos, chegam em carne viva. Trazem dor, confusão, delírio. Mas mal tocam a tela ou o papel, rompem o silêncio que cada um carrega há demasiado tempo. Na Casa de Artes do Hospital Sobral Cid, ala esquerda do Pavilhão 9 (P9), a arte bruta vem desse lugar íntimo e […]
Soldadinho de chumbo
[Estou, eu] mais velho do que nunca, mais velho ainda do que quando nasci, e pedi para ver os sapatos das noivas. Disseste-me que lá fosse eu, e eu fia. Tramando as pregas, duas a duas, com mãos ainda curtas, caçava e folgava duas vezes para chamar a atenção. Semblante de regozijo, lá do cimo, […]
Voltar à praia
Passeio pela praia contrariando o prazo da escrita. Perante a apatia que se instalou nos dedos e um certo cansaço dos olhos, fujo das palavras e de tudo o que elas representam. Como a cidade, também elas se esvaziam na sobreexposição dos dias longos. Onde a luz chega, a substância desvanece. Prevalece uma sensação de […]
As raparigas fazem o Verão – 4. Tio encantado
Não era Verão, corria Fevereiro e o frio, assim o crio, barbeiro. As mulheres urinavam de pé, abrindo as pernas e o vapor envolvia-as numa neblina que as dissipava. A rapariga tinha, então, quatro anos e a morte entrou-lhe de rompante através do corpo do tio exposto no meio da sala vazada de objectos. As […]
Olhos que, depois de cegos, continuaram a ver
A Avó Maria era a filha mais velha de um casamento que durou a vida inteira, com homem e mulher separados por um oceano. O bisavô José Henriques já estava emigrado nos Estados Unidos da América quando a conheceu. Ela era irmã de uma cunhada, mulher de um dos irmãos, e ele conheceu-a na primeira […]